CARTAS POÉTICAS QUE ROMPEM A BARREIRA DO TEMPO
QUANDO EU ATRAVESSEI O PORTAL DOS SEUS OLHOS
Quando os nossos olhos se encontraram, nós ficamos
paralisados por alguns segundos e eu... eu fui atraído para dentro de você.
Lembrei-me do meu nome, do seu nome. Isso mesmo! Quando atravessei a janela dos
seus olhos eu me reencontrei em você e reencontrei você há um tempo bem
distante. Percebi que sempre caminhamos juntos. O tempo da jornada eu não sei,
mas sempre estivemos juntos, lado a lado. Lembra-se de quando brincávamos de
bola sob os riscos dos bombardeios? Daquela bola improvisada que rolava no meio
dos escombros da guerra? Lembra-se de quando fumávamos escondidos e ríamos o
tempo todo? E só voltávamos para casa aos gritos das nossas mães e quase
escurecendo, ao anoitecer? Lembra-se? Crescemos, lutamos e fomos aprisionados.
Eu fugi. Não abandonei você. Você me seguiu. Fomos perseguidos... aqueles
malditos cães! Mais uma vez eu lhe digo: eu não abandonei você, apenas fugi! Eu
corri, fugi e fui perseguido, caçado. E quando me pegaram, sofri ao perceber
que você também estava lá. Mas eu disse para você ficar. Malditos soldados!
Malditos cães! Pegaram-nos! E os nossos olhares se apagaram diante de uma cova
rasa aberta para os nossos corpos torturados, que ainda agonizando, foram
sufocados com a terra que nos alimentou e nos deu vida. Ficou escuro e o
silêncio foi repousando ao nosso lado. E quando acordei, eu estava novamente ao
seu lado. Lembra-se? Creio que não! Mas eu me lembrei do nosso nome quando
atravessei o portal dos seus olhos.
*****
O QUE FALASTE?
O que falaste então? Foi a pergunta que eu te fiz, mas
ficaste oscilando entre o sim e o não! O que falaste? Até hoje eu não entendo
por que ficaste inerte, sem reação, sem voz diante da minha pergunta. Falaste
com os olhos, eu sei. Mas os teus olhos falaram sobre tantas outras coisas que
naquele momento não me permitiram entender o que estavas dizendo. Ainda guardas
contigo o que não me disseste? O vermelho é uma cor primária, pura, que se
desdobra em nuances. Qual foi o tom que ofereceste para que pintassem a tela
com o puro vermelho. Vermelho! Uma tela que ainda está pendurada em uma parede
imaginária, impossível de ser removida. Provocando-me, instigando-me,
desafiando-me a desvendar o enigma: o que falaste?
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