CARTAS POÉTICAS QUE ROMPEM A BARREIRA DO TEMPO




QUANDO EU ATRAVESSEI O PORTAL DOS SEUS OLHOS

 

Quando os nossos olhos se encontraram, nós ficamos paralisados por alguns segundos e eu... eu fui atraído para dentro de você. Lembrei-me do meu nome, do seu nome. Isso mesmo! Quando atravessei a janela dos seus olhos eu me reencontrei em você e reencontrei você há um tempo bem distante. Percebi que sempre caminhamos juntos. O tempo da jornada eu não sei, mas sempre estivemos juntos, lado a lado. Lembra-se de quando brincávamos de bola sob os riscos dos bombardeios? Daquela bola improvisada que rolava no meio dos escombros da guerra? Lembra-se de quando fumávamos escondidos e ríamos o tempo todo? E só voltávamos para casa aos gritos das nossas mães e quase escurecendo, ao anoitecer? Lembra-se? Crescemos, lutamos e fomos aprisionados. Eu fugi. Não abandonei você. Você me seguiu. Fomos perseguidos... aqueles malditos cães! Mais uma vez eu lhe digo: eu não abandonei você, apenas fugi! Eu corri, fugi e fui perseguido, caçado. E quando me pegaram, sofri ao perceber que você também estava lá. Mas eu disse para você ficar. Malditos soldados! Malditos cães! Pegaram-nos! E os nossos olhares se apagaram diante de uma cova rasa aberta para os nossos corpos torturados, que ainda agonizando, foram sufocados com a terra que nos alimentou e nos deu vida. Ficou escuro e o silêncio foi repousando ao nosso lado. E quando acordei, eu estava novamente ao seu lado. Lembra-se? Creio que não! Mas eu me lembrei do nosso nome quando atravessei o portal dos seus olhos.


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O QUE FALASTE?

 

O que falaste então? Foi a pergunta que eu te fiz, mas ficaste oscilando entre o sim e o não! O que falaste? Até hoje eu não entendo por que ficaste inerte, sem reação, sem voz diante da minha pergunta. Falaste com os olhos, eu sei. Mas os teus olhos falaram sobre tantas outras coisas que naquele momento não me permitiram entender o que estavas dizendo. Ainda guardas contigo o que não me disseste? O vermelho é uma cor primária, pura, que se desdobra em nuances. Qual foi o tom que ofereceste para que pintassem a tela com o puro vermelho. Vermelho! Uma tela que ainda está pendurada em uma parede imaginária, impossível de ser removida. Provocando-me, instigando-me, desafiando-me a desvendar o enigma: o que falaste?


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© Ricardo Ohara
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