CRÔNICAS DE RICARDO OHARA . UMA REFLEXÃO SOBRE A VIDA.
QUANDO A OMELETE VIRA UM MEXIDO
É chegada a hora da grande virada. Olhamos para o prato e
ele está vazio. Aquele brilho de satisfação que antes havia nos olhos começa a
desaparecer junto com o salivar instigante que brotava na boca como uma
nascente de água. De repente, uma fatia totalmente deformada cai abruptamente
sobre o prato. Olhamos para a frigideira e nos deparamos com o restante do que
poderia ter sido uma bela omelete. Colocamos, então, tudo de volta na
frigideira e tentamos unir as peças que se separaram.
Apertamos daqui, apertamos dali e, possuídos por uma ira descontrolada, atacamos ferozmente a pobre omelete como se estivéssemos lutando contra um monstro que se colocou a nossa frente, impedindo-nos de alcançar o nosso objetivo. Lançamos mão da escumadeira como se fosse uma poderosa espada e a retalhamos em infinitos pedacinhos.
Mas o estômago começa a lamentar e reclamar pelos restos mortais da omelete. E aí nos vem aquele sentimento de culpa. Paramos por um momento para refletir e falamos — Até que não parece tão ruim! — E damos a primeira garfada. Pensamentos começam a emergir sem balbucio de uma única palavra para não contrariar o nosso orgulho ferido — Hum! Até que está gostoso!
Apertamos daqui, apertamos dali e, possuídos por uma ira descontrolada, atacamos ferozmente a pobre omelete como se estivéssemos lutando contra um monstro que se colocou a nossa frente, impedindo-nos de alcançar o nosso objetivo. Lançamos mão da escumadeira como se fosse uma poderosa espada e a retalhamos em infinitos pedacinhos.
Mas o estômago começa a lamentar e reclamar pelos restos mortais da omelete. E aí nos vem aquele sentimento de culpa. Paramos por um momento para refletir e falamos — Até que não parece tão ruim! — E damos a primeira garfada. Pensamentos começam a emergir sem balbucio de uma única palavra para não contrariar o nosso orgulho ferido — Hum! Até que está gostoso!
Omelete ou mexido, o que importa é que todos os ingredientes
permaneceram agregados sem a perda do seu valor nutritivo e com o mesmo sabor.
Mas mesmo assim, fica no ar aquela frustração pelo que não agradou aos olhos e,
tampouco, ao nosso ego. Faz parte da natureza do homem. O importante é poder
deixar fluir e extrair de cada processo, seja ele mal ou bem sucedido, o melhor
possível de satisfação ou até mesmo diante de uma perda, acreditar que podemos
fazer uma omelete perfeita e saborosa.
*****
Espinhos... É doloroso ter um espinho cravado na carne. Creio que a
maioria das pessoas já passou por essa situação. Incomoda muito e pode até
infeccionar na região onde se sofreu a pequena lesão. Por isso, a primeira
providência que tomamos é a remoção do corpo estranho.
Espinhos... As rosas... muitas delas são protegidas por espinhos. Espinhos... Uma noite dessas, assisti um documentário transmitido por certa emissora de televisão e fiquei impressionado e ao mesmo tempo maravilhado com a quantidade de espinhos que uma determinada espécie de árvore tinha desde o início do seu tronco até a formação da sua copa. Grandes e pontiagudos espinhos a protegiam de predadores, uma artimanha natural que se formou para preservação das suas sementes e assim garantir a sobrevivência da sua espécie.
Visualizei logo um indígena lançando mão de alguns daqueles espinhos para utilizar como munição, os quais após a imersão das suas pontas em alguma substância paralisante e, com o auxílio de um canudo, seriam utilizados para caçar, protegê-los de predadores, e também garantir a sobrevivência da sua espécie.
Espinhos... Que nos fere superficialmente, fáceis de serem removidos, mas que deixam uma pequena cicatriz que o tempo vai apagando. Espinhos... Que penetram mais profundamente na carne e causam uma dor mais dolorosa, mas que ainda podem ser removidos.
Espinhos... Que como lanças transpassam e dilaceram a carne causando uma total destruição que o próprio tempo não consegue curar, apenas amenizar a dor.
Espinhos... Que mesmo depois de serem extraídos ainda deixam na carne a sua fina ponta cravada. Um corpo estranho que vai sendo isolado e totalmente preterido pelo resto do corpo.
Espinhos... Convivemos com ele durante muito tempo até que sejam expelidos ou não.
Espinhos... Que trazem em sua aguçada ponta um veneno letal, contaminando-nos e provocando uma morte lenta.
Espinhos... Que são arremessados, talvez pelo mau hábito de uma movimentação brusca, espontânea, maliciosa ou involuntária.
Espinhos... Sempre ferem os que estão a sua volta, sempre ferem os que estão bem próximos.
E pegando um gancho naquela velha pergunta: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Os filhotes do porco-espinho nascem com espinhos? Para esta pergunta eu encontrei uma resposta. Sim, eles nascem com os espinhos. Só que são moles e vão endurecendo com o tempo. Pois se não fosse assim, seria uma crueldade com a mamãe porco-espinho. Quanto à questão do ovo e da galinha, essa pergunta ainda vai ficar no ar por muito tempo.
Os espinhos são uma proteção e não um instrumento de prazer para ser utilizado a todo o momento e contra todos. Temos que cuidar bem deles, pois eles podem crescer como os dentes do juízo, os sisos, totalmente inclusos ou como um daqueles pelos encravados, que além de provocar um grande incômodo, também poderá causar muita dor.
Espinhos... As rosas... muitas delas são protegidas por espinhos. Espinhos... Uma noite dessas, assisti um documentário transmitido por certa emissora de televisão e fiquei impressionado e ao mesmo tempo maravilhado com a quantidade de espinhos que uma determinada espécie de árvore tinha desde o início do seu tronco até a formação da sua copa. Grandes e pontiagudos espinhos a protegiam de predadores, uma artimanha natural que se formou para preservação das suas sementes e assim garantir a sobrevivência da sua espécie.
Visualizei logo um indígena lançando mão de alguns daqueles espinhos para utilizar como munição, os quais após a imersão das suas pontas em alguma substância paralisante e, com o auxílio de um canudo, seriam utilizados para caçar, protegê-los de predadores, e também garantir a sobrevivência da sua espécie.
Espinhos... Que nos fere superficialmente, fáceis de serem removidos, mas que deixam uma pequena cicatriz que o tempo vai apagando. Espinhos... Que penetram mais profundamente na carne e causam uma dor mais dolorosa, mas que ainda podem ser removidos.
Espinhos... Que como lanças transpassam e dilaceram a carne causando uma total destruição que o próprio tempo não consegue curar, apenas amenizar a dor.
Espinhos... Que mesmo depois de serem extraídos ainda deixam na carne a sua fina ponta cravada. Um corpo estranho que vai sendo isolado e totalmente preterido pelo resto do corpo.
Espinhos... Convivemos com ele durante muito tempo até que sejam expelidos ou não.
Espinhos... Que trazem em sua aguçada ponta um veneno letal, contaminando-nos e provocando uma morte lenta.
Espinhos... Que são arremessados, talvez pelo mau hábito de uma movimentação brusca, espontânea, maliciosa ou involuntária.
Espinhos... Sempre ferem os que estão a sua volta, sempre ferem os que estão bem próximos.
E pegando um gancho naquela velha pergunta: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Os filhotes do porco-espinho nascem com espinhos? Para esta pergunta eu encontrei uma resposta. Sim, eles nascem com os espinhos. Só que são moles e vão endurecendo com o tempo. Pois se não fosse assim, seria uma crueldade com a mamãe porco-espinho. Quanto à questão do ovo e da galinha, essa pergunta ainda vai ficar no ar por muito tempo.
Os espinhos são uma proteção e não um instrumento de prazer para ser utilizado a todo o momento e contra todos. Temos que cuidar bem deles, pois eles podem crescer como os dentes do juízo, os sisos, totalmente inclusos ou como um daqueles pelos encravados, que além de provocar um grande incômodo, também poderá causar muita dor.
*****
Enquanto eu viajava com os meus pensamentos, lembrei-me de
algo que li ou ouvi, talvez um pequeno conto ou uma dessas cartas de ouvintes
de rádio que contam as suas histórias, não me lembro muito bem sobre a origem,
mas o “Ó do Borogodó” ficou registrado.
Um casal cheio de tesão pulou para o banco de trás do carro
e na hora H, o cara fugiu do rala e rola. A mulher ficou traumatizada e amargou
ao longo dos anos um complexo de rejeição.
Eles se encontravam casualmente em algumas festas, mas não
conseguiam se encarar. Estavam sempre fugindo um do outro. Mas a expectativa de
como poderia ter sido aquele momento de paixão permaneceu latente na vida dos
dois.
Certo dia, quando eles se encontraram novamente, a mulher,
meio chorosa, não resistiu e expôs para ele a sua frustração.
— Eu nunca consegui esquecer aquele nosso encontro. Por que
você me rejeitou?
— Eu não a rejeitei. Como eu poderia ter rejeitado uma
mulher como você — respondeu o cara, meio desconcertado.
— Mas então, por que você me desprezou daquele jeito?
— Eu não tive outra saída. Eu fiquei tão excitado que tive
uma ejaculação precoce. Eu fiquei envergonhado. Não suportaria passar tal
humilhação.
E naquele momento se desfez o nó. E essa mulher, na calada
da madrugada, transportou-se àquele momento de paixão. Sozinha, envolvida em
seus lençóis, conduziu-se ao ápice daquele prazer perdido.
E muitas vezes, deixamos de desfrutar os belos momentos que
a vida nos oferece. Fechamos a janela e ignoramos totalmente o dia ensolarado
do lado de fora. Fugimos de nós mesmos e de todos.
Começamos a falar uma linguagem estranha. Passamos a
caminhar por uma estrada pedregosa e espinhosa, como andarilhos solitários à
procura de uma tribo que fale a nossa língua. Mas o grupo que se une pela
semelhança, acaba se distinguindo pelas diferenças.
E como saber o momento de cada um? Como podemos identificar
e pesar os nossos erros e acertos, se nós estamos sempre presos aos padrões e
às metodologias? Essas ervas daninhas que sorrateiramente vão se enraizando na nossa
vida e sugando toda a nossa essência, deixando-nos fracos e sem forças para
enfrentar erros e acertos tolos.
Falo sobre acertos tolos, pois em muitos casos, tomamos
decisões que achamos corretas e às vezes são, mas os seus efeitos acabam
provocando desequilíbrios e transtornos na nossa vida e de outras pessoas. Os
fantasmas começam a nos assombrar pelas madrugadas. A vida se destempera e
passamos a despertar todas as manhãs com aquele gosto de cabo do guarda-chuva
na boca. Eca!
*****
O PUXA-SACO
Bichinho inoportuno esse tal de puxa-saco! Ele também é
conhecido como bajulador e se encontra alojado em todos os lugares do planeta.
E basta só um para fazer um grande estrago. O pior é que cada vez mais eles
ficam resistentes e imunes a inseticidas ou qualquer outro tipo de veneno. Ele
gruda como uma sanguessuga e só desgruda quando está pesado de sangue, bem
alimentado.
Eu usei a expressão "bichinho", mas eu acho que é até carinhosa demais. Não saberia classificá-lo pela falta de conhecimento científico. Mas no chute, eu posso até arriscar: um verme, um parasita, um fungo, um sei lá sabe o quê!? Eu só sei que ele incomoda muito.
O engraçado é que a pessoa infectada se sente bem, fica bem disposta, alegre, confiante. Mas os que estão a sua volta, ficam irritados, enjoados, mal-humorados e desanimados. Dá até febre e muita dor de cabeça. Uma coisa horrível! Muitos chegam bem próximos da loucura total. Deve ser a reação dos anticorpos ou coisa parecida.
E como identificar o puxa-saco? Não é difícil. Ele vai se manifestando e se enfiando sorrateiramente entre os demais. Cuidado! Ele se camufla. Mas não dá para enganar por muito tempo. As suas características são inconfundíveis. Um dos lugares ideais para se encontrar essa espécie é nas empresas privadas e nos setores públicos. Nestes têm em pencas, ninhos.
A principal característica de um puxa-saco é hilária. Ele está sempre mostrando os dentes amarelados e fedendo à carniça, como a hiena. Outro comportamento típico desse bichinho é perceptível. Ao contrário da coruja, ele fica o tempo todo mexendo com a cabeça para cima e para baixo. Ele sempre busca refúgio em salas escuras, grandes e confortáveis, como as da chefia. Ali ele se farta, dorme, ronca, e baba muito.
E quando é fêmea?! Dá um maior trabalho. As cadeiras e poltronas da sala da chefia ficam sempre úmidas e manchadas, as mesas todas embaçadas. Esse tal bicho gosta mesmo de se dar bem. Por isso, fica difícil classificá-lo, pois além de temperamentais, eles são muito espertos e estão sempre trocando de pele.
Mas se fossem da espécie humana eu poderia arriscar: oportunista, vulgar, mesquinho, promíscuo, sem personalidade, sem caráter, desprezível e nojento. Dá até vontade de vomitar quando eu penso na possibilidade de encontrar algum desses parasitas na minha frente. Sai de retro bicho insignificante!
Eu usei a expressão "bichinho", mas eu acho que é até carinhosa demais. Não saberia classificá-lo pela falta de conhecimento científico. Mas no chute, eu posso até arriscar: um verme, um parasita, um fungo, um sei lá sabe o quê!? Eu só sei que ele incomoda muito.
O engraçado é que a pessoa infectada se sente bem, fica bem disposta, alegre, confiante. Mas os que estão a sua volta, ficam irritados, enjoados, mal-humorados e desanimados. Dá até febre e muita dor de cabeça. Uma coisa horrível! Muitos chegam bem próximos da loucura total. Deve ser a reação dos anticorpos ou coisa parecida.
E como identificar o puxa-saco? Não é difícil. Ele vai se manifestando e se enfiando sorrateiramente entre os demais. Cuidado! Ele se camufla. Mas não dá para enganar por muito tempo. As suas características são inconfundíveis. Um dos lugares ideais para se encontrar essa espécie é nas empresas privadas e nos setores públicos. Nestes têm em pencas, ninhos.
A principal característica de um puxa-saco é hilária. Ele está sempre mostrando os dentes amarelados e fedendo à carniça, como a hiena. Outro comportamento típico desse bichinho é perceptível. Ao contrário da coruja, ele fica o tempo todo mexendo com a cabeça para cima e para baixo. Ele sempre busca refúgio em salas escuras, grandes e confortáveis, como as da chefia. Ali ele se farta, dorme, ronca, e baba muito.
E quando é fêmea?! Dá um maior trabalho. As cadeiras e poltronas da sala da chefia ficam sempre úmidas e manchadas, as mesas todas embaçadas. Esse tal bicho gosta mesmo de se dar bem. Por isso, fica difícil classificá-lo, pois além de temperamentais, eles são muito espertos e estão sempre trocando de pele.
Mas se fossem da espécie humana eu poderia arriscar: oportunista, vulgar, mesquinho, promíscuo, sem personalidade, sem caráter, desprezível e nojento. Dá até vontade de vomitar quando eu penso na possibilidade de encontrar algum desses parasitas na minha frente. Sai de retro bicho insignificante!
*****
O ESCORPIÃO E A TARTARUGA
Anos atrás, não me recordo o nome do autor, eu ouvi uma
pequena história, uma fábula, que passou a ser utilizada por mim como base na
construção de opiniões e dissertações sobre a personalidade humana: havia um
incêndio de um lado da floresta. Os animais que sabiam nadar atravessaram o rio
e conseguiram se salvar, mas aqueles que não sabiam nadar ficaram dependendo da
ajuda de outros animais. O escorpião, desesperado, implorou à
tartaruga para que o atravessasse até a outra margem do rio. Mas ela prontamente se negou a ajudá-lo, alegando que poderia ser picada com o seu ferrão e morrer envenenada. O escorpião, aflito, prometeu que jamais
faria uma coisa dessas com um amigo que estava ajudando-o. A tartaruga relutou,
mas acabou se sensibilizando com o drama dele, acreditou nas suas
promessas e decidiu ajudá-lo. O escorpião se sentiu mais aliviado, subiu no
casco dela e quando estava quase chegando na outra margem do rio, não resistiu e a picou. E ela, enquanto agonizava, perguntou por que ele havia feito aquilo. O escorpião,
friamente, respondeu que não podia fugir da sua índole, que era da sua
natureza. Interessante não? É inconfundível dentro deste pequeno contexto a
dura revelação da natureza humana, a luta entre o bem e mal, ser bom ou ruim.
Somos o escorpião? Somos a tartaruga? Será que ambos estão dentro da gente?
Qual deles será o nosso bichinho de estimação?
*****
CICATRIZES DA ALMA
Seguimos tranquilamente em frente tocando a nossa vida da
maneira que nos é permitido levá-la, quando de repente tropeçamos em um
paralelepípedo e sentimos aquela estranha sensação de pontada aguda na alma. A ferida
que pensávamos estar cicatrizada voltou a sangrar. E como dói. Dói de dentro
para fora. Essa perigosa sensação ronda todo ser humano. Ela vai se alimentando
desde a nossa gestação, nascimento, infância, adolescência... cresce e acaba se
transformando em um bicho papão, que fica nos perseguindo até o resto das
nossas vidas.
Tentamos fugir, dizendo: — Não, comigo não é assim! Eu não guardo rancor de ninguém! Eu quero que essa pessoa seja feliz! Para mim tanto faz, eu não me importo! Eu sou uma pessoa feliz! E mais isso, e mais aquilo. Mas quando a ferida começa a sangrar, tudo muda de figura. Um amargo incomum toma conta do nosso humor trazendo à tona lembranças, vivências, coisas que não gostaríamos de pensar, de reviver, somente esquecer. O mel se torna fel: — Que morra! Eu odeio! Você vai me pagar! E outros bichos mais.
Esses sentimentos e ressentimentos espinhosos não se deixam esquecer, estão sempre nos espetando, chamando a atenção para as suas existências. Eles ficam adormecidos por um determinado tempo, mas quando menos se espera, despertam, espreguiçam-se e lançam seus espinhos venenosos em nossa alma. O jeito é dar um biscoitinho para o bicho papão sossegar, esperar a ferida fechar, e seguir em frente que atrás vem gente. Isso porque não sabemos que tipo de gente acompanha os nossos passos. Podemos ser surpreendidos pelas ciladas da vida. Ora para termos um aprendizado, ora para acertarmos as contas com aqueles que caminhavam na nossa frente e foram atropelados.
Tentamos fugir, dizendo: — Não, comigo não é assim! Eu não guardo rancor de ninguém! Eu quero que essa pessoa seja feliz! Para mim tanto faz, eu não me importo! Eu sou uma pessoa feliz! E mais isso, e mais aquilo. Mas quando a ferida começa a sangrar, tudo muda de figura. Um amargo incomum toma conta do nosso humor trazendo à tona lembranças, vivências, coisas que não gostaríamos de pensar, de reviver, somente esquecer. O mel se torna fel: — Que morra! Eu odeio! Você vai me pagar! E outros bichos mais.
Esses sentimentos e ressentimentos espinhosos não se deixam esquecer, estão sempre nos espetando, chamando a atenção para as suas existências. Eles ficam adormecidos por um determinado tempo, mas quando menos se espera, despertam, espreguiçam-se e lançam seus espinhos venenosos em nossa alma. O jeito é dar um biscoitinho para o bicho papão sossegar, esperar a ferida fechar, e seguir em frente que atrás vem gente. Isso porque não sabemos que tipo de gente acompanha os nossos passos. Podemos ser surpreendidos pelas ciladas da vida. Ora para termos um aprendizado, ora para acertarmos as contas com aqueles que caminhavam na nossa frente e foram atropelados.
© Ricardo Ohara, 2023
Todos os direitos sobre esta obra estão reservados ao autor.
É proibido reproduzir em qualquer formato, total ou parcial, armazenar em sistema de banco de dados ou processo similar, seja por meio eletrônico, fotocópia, gravação, etc., o conteúdo deste original sem a autorização prévia do autor.
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