Poesias de Ricardo Ohara



Eterno Sonhador

 


Sou o espaço vazio,
O louco sem destino,
A torre da igreja
Sem a badalada de um sino.
 
Sou o grito perdido
Procurando por alguém,
O eco que não retorna,
A resposta que não vem.
 
Sou o mapa aprisionado
Vagando no mar... aquém,
O tesouro enterrado
Na ilha do desdém.
 
Sou a esperança à vista,
Alívio da dor,
Sou poeta, sou artista,

Eterno sonhador.

          

 

Só Um Impulso
  
 
Desejo, pura vontade
De obter a propriedade,
Desprender-se do vazio
Que envolve por inteiro
O corpo nu, ávido.
Desejo, a procura,
A cura, um feixe de luz
Que vaza docemente
Pela porta entreaberta.
Desejo, uma simples
E adorável descoberta
Que chega ao fim
Sem mesmo ter começado.
Desejo, pura frustração,
Maldita conclusão
De que foi só o impulso
De um corpo nu, ávido.
        


Olhos do Desejo


Os olhos…  Apenas um olhar, nada mais que um simples olhar. Olhos negros, castanhos, verdes, azuis… O que os olhos traduzem? Sentimentos, expressões , movimentos instintivos, mecanismos sensoriais… Ou vão bem além de tudo o que podemos imaginar? 


 

Esses olhos me dizem algo,
Posso lê-los claramente,
Mesmo querendo não entender,
Não saem da minha mente.
 
Será que por detrás deles
Há mais coisas que não posso ver?
Pudera eu conhecer os seus segredos,
O que mais terão a esconder?
 
Sei que por eles sou assediado,
Cercam-me por todos os lados,
Mesmo quando estão cabisbaixos,
Disfarçados, fingindo não me ver.




Tola Cegueira
 
 
Olhas-te no espelho
Mas não me vês.
Caminhas comigo,
Trabalhas comigo,
Jantas comigo
E não me vês.
Atravessaste gerações,
Celebraste ocasiões,
Sempre olhando para mim
E sem me ver.
Quão tola cegueira!
Eu estava o tempo todo
Olhando para você. 

 

 

 

Cheiro Suave 


 

As portas, antes, cerradas,

Abriram-se de mansinho.

O sol, oportunista, sorrateiramente,

Invadiu o meu esconderijo.

O meu corpo frio,

Tornou-se quente.

Nos meus olhos,

Um brilho diferente.

Na minha pele,

Um cheiro suave.

E o silêncio perturbador

Foi totalmente quebrado

Pelo ruído ensurdecedor

Das velhas dobradiças.

               
 *****



*SONETOS*


Belo Recanto


 
As minhas asas invisíveis
Alçam-me além do meu ninho.
Trilhas aos meus olhos visíveis
Conduzem-me por um caminho.
 
Livre do fardo do cansaço,
Pouso em um belo recanto.
Ouço pássaros! Um sanhaço
Alegra-me com o seu canto.
 
Aromas suaves de flores
Provocam-me um leve torpor,
Induzindo-me a hibernar.
 
Borboletas de várias cores
Tomam-me feito um cobertor,
Prolongando o meu despertar.


 


Alma Gêmea

 
Alma gêmea, luz de mil vidas.
Água aquecida que borbulhou,
Lembrança viva que evaporou,
Folhas soltas ao vento, perdidas.
 
Aliança que o tempo quebrou
Sem a celebração de um rito.
Olhar que vaga no infinito,
Riacho que não corre mais: secou.
 
Secaram também as margaridas,
Os crisântemos e as tulipas,
As papoulas e as sempre-vivas.
 
Não há mais jardineiras floridas,
Um céu com estrelas e com pipas,
Só restaram lágrimas cativas.
 



O Meu Jardim

 
Eu sinto a falta do perfume
Das singelas rosas do meu jardim,
Da minha antiga bicicleta,
Eu sinto a falta até de mim.
 
Falta me faz os que já se foram,
Mais ainda os que aqui estão,
Falta me faz os que eu não tive,
Mais ainda os que nunca virão.
 
A idolatria à tristeza,
O cortejo à melancolia,
Não fazem parte da minha pauta.
 
Apenas retrato a beleza
Da vida, vividos em um dia,
Dos quais hoje eu sinto muita falta.



O Círculo


 
Fechei-me no círculo,
Fiquei prisioneiro.
O tempo, companheiro,
Fez-me um ridículo.
 
Eu perdi o segredo,
Joguei a chave fora,
Com ela foi embora
A sensação do medo.
 
Espero os pássaros
Retornarem no verão,
Talvez eu tenha sorte!
 
Pois frios são os aros
Desta escura prisão,
Condenação sem morte!




Menino Homem,
Homem Menino

 
Corre, corre, corre o menino
Pela estrada do seu destino.
Atraído pelo som do sino,
Corre, corre, corre o menino.
 
Corre o menino sem destino,
Fugindo do feitiço do sino.
Corre, corre o homem menino
Para o abrigo uterino.
 
Menino travesso, arredio!
Bateste ao vento a poeira
Que a lama deixou após secar.
 
Descobriste a ponta do fio
De uma trama feita na eira
Antes do menino homem chegar.



As Brancas Velas


 
Sopra o vento as velas
Do barco que a navegar,
Deixa-se levar por elas
Sem hora para retornar.
 
Vai-se o barco sem rumo
Arrastado pelo vento,
Nas velas o seu aprumo,
Nas águas o seu alento.
 
Em um triz o grande rastro,
Pelas ondas encoberto,
Desaparece ao olhar.
 
As brancas velas sem mastro
Cruzam o azul aberto.
Agora o céu, não o mar.


 


Quanto Custa Um Boi?


 
Sigo sem eira nem beira
Procurando não tropeçar.
Na mente uma besteira
Que o vento faz tilintar.
 
Mas se o que é, nunca foi,
Se o que foi, nunca será,
Quanto é que custa um boi
Sem um carro para puxar?
 

Quanto vale o que penso?
Sinceramente, eu não sei.
Não me lembro nem do jantar.

 
Será que estou apenso?
Será que só pensei, pensei?
Deixei de raciocinar?
 



Amigo Vento

 
Carrega amigo vento
Essas minhas amarguras
E me traga doces curas,
Um milagroso unguento.
 
Não retorne sem encontrar:
Ópio para minh’alma,
Canto que me traga calma,
Brilho para o meu olhar.
 
Vá o mais breve que puder.
Corra os cantos do mundo,
Corra! Não olhe para trás.
 
Vá o mais breve que puder.
Milésimos... um segundo
Eu lhe concedo, nada mais.


*****



Palavras-Chave
Poesias Sobre a Vida, Poesias Curtas, Poemas de Amor, Poesias Bonitas, Poemas Românticos, Poesias Sobre a Natureza, Poesias de Ricardo Ohara.

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